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Kultura

Sobre Madame Satã

  • 26 czerwca 201826 czerwca 2018

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Ou melhor, sobre João Francisco dos Santos

“Nasci pra esse dia. Pra receber o aplauso do meu público”

Madame Satã

Então você decide que é hora de visitar o Brasil pela primeira vez na tua vida. Naturalmente, você também decide que não há como voltar daquele país sem pagar uma visita ao Rio de Janeiro, o cartão-postal dos brasileiros. Pois bem. Você finalmente aterrisa na tão famosa “cidade maravilhosa”, visita o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, o Arpoador, e vai tomar um sol e um mate com limão e gelo na praia de Ipanema pra se refrescar. Nessas idas e vindas como turista pela cidade, você acaba conhecendo alguns cariocas (como são conhecidos os moradores de lá) que te convidam para tomar uma cerveja, ou “um chopp,” no reduto da boemia na cidade. E é no final do dia, ao chegar na “Lapa” que tua diversão começa!

O bairro da Lapa no Rio é hoje famoso pelo monumental Arco da Carioca, pelo bondinho que passa em cima dele (sim, ele ainda funciona!) e que liga o Morro de Santa Teresa ao Centro da cidade, e pelo lendário Circo Voador, o espaço cultural símbolo da região. A Lapa não é só construções; é também a história dos espetáculos do Cassino da Urca (uma das mais badaladas casas noturnas que o Rio já testemunhou, extinta em 1946 após a proibição de jogos de azar no Brasil), do Beco das Garrafas (uma travessa sem saída onde a bossa nova floresceu pro mundo no final da década de 50), e dos inúmeros pianos-bar, das casas de samba, dos movimentos musicais black, disco e funk da década de 70, e, mais recentemente, da música eletrônica.

Akwedukt Lapa Rio de Janeiro

João Francisco dos Santos (1900-1976) foi um dos mais assíduos frequentadores da Lapa, só que lá atrás, durante a década de 1930. Foi ele também o responsável pela criação de Madame Satã, a célebre drag queen que inspirou o título do nosso filme do mês, o de número 53 na lista da Abraccine. Madame Satã, virou mito emblemático não só da vida noturna e carioca, mas também da cultura urbana marginal brasileira do século XX. O filme, primeiro longa-metragem dirigido por Karim Aïnouz (aplausos!), resiste à tentação comum das cinebiografias (aquelas que utilizam-se da cronologia tradicional de acontecimentos na vida de uma figura qualquer) e começa com a leitura de um relatório policial em voz offset explicando a prisão da Madame, vista na tela toda ensanguentada e agredida fisicamente. Um corte-flashback nos transporta para o espetáculo intimista cabaret “1001 Noites” na casa de espetáculos onde trabalhava como figurinista. Nos transporta também para o início da narrativa de João Francisco inserido naquele universo de prostitutas, bêbados, artistas, boêmios, suburbanos, gays, enrustidos, capoeiristas e negros que era a Lapa em 1932.

Lázaro Ramos como João Francisco Santos/Madame Satã
Lázaro Ramos como João Francisco Santos/Madame Satã

O filme privilegia o círculo de amigos, família, os “bicos” (gíria para empregos temporários no Brasil), a índole irônica e extrovertida de João Francisco que tinha gosto inerente pela malandragem e boemia. Assim, Karim deixa claro que essa figura histórica não foi só o mito Madame Satã. João Francisco foi também, nas palavras do jornalista Paulo Francis, uma espécie de “gunfighter da Lapa”, um Robin Hood tropical que, ao invés do arco e da flecha, utilizava-se da capoeira para enfrentar a autoridade policial do Rio de Janeiro em nome dos marginalizados, pobres, e descriminados. De fato, João Francisco encapsula quase todas as categorias da chamada cultura marginal urbana: além de ter sido negro, pobre e homossexual, foi também presidiário, pai adotivo, transformista, analfabeto, andrógeno, malandro. Todas ainda hoje, depois de mais de 80 anos, tão atuais para os debates correntes sobre homossexualismo, homofobia, intolerância sexual, preconceito racial, disparidade de gênero, exclusão e marginalidade social. É por essas e outras que, para os olhos do expectador de 2018, Madame Satã poderia ser rotulado de “filme-ativismo”; Madame Satã, uma figura emblemática de resistência “fora da lei”; e Karim, uma espécie de embaixador da cultura LGBTQIA brasileira—“O fato de ser gay não me torna menos homem”, é o que afinal grita João Francisco quando sai no braço com outro malandro.

Lázaro Ramos como João Francisco Santos/Madame Satã
Lázaro Ramos como João Francisco Santos/Madame Satã

Mesmo que nada desses assuntos te interesse, o filme merece um balde cheíssimo de pipoca pelas questões técnicas,um verdadeiro primor! A ambientação histórica é bem traduzida no figurino, direção de arte, maquiagem e trilha sonora com canções que marcaram a época (Noel Rosa e Ismael Silva, por exemplo) são uma aula sobre a memória cultural brasileira. A atuação de todos é também de nota, com especial menção à de Lázaro Ramos que incarnou João Francisco e a Madame impecavelmente—Madame Satã foi, inclusive, o filme que o incluiu no hall dos autores excepcionais do cinema brasileiro. Isso sem mencionar a fotografia magistral de Walter Carvalho (atenção! Walter Carvalho também fez a fotografia de Abril Despedaçado, criticado “minutamente” no nosso mês de Abril. Ela confere um tom lúgubre, sujo à narrativa, algo que deu vida, de maneira bastante coerente, à decadência do bairro da Lapa não só naquela década, mas sobretudo nos dias atuais. A mesma Lapa que você decide visitar quando pisa teus pés no Rio de Janeiro.

FICA A DICA:

  1. Presta atenção na câmera da cena em que João sai da prisão e é recebido com uma festinha por Laurita e Tabu. É vigorosa, poderosa, cheia de delicadeza e feita em um plano-sequência sem corte algum, ao som de uma das canções mais clássicas da época: “Se você Jurar”, composta por Ismael Silva em 1931 e interpretado por Francisco Alves e Mário Reis. Quer ouvir?

CURIOSIDADES:

  1. Madame Satã foi nomeado para prêmios no Brasil e por aí afora 35 vezes, abocanhando 21 deles;
  2. João Francisco teve uma extensa ficha criminal. No total foram quase vinte e oito anos de prisão por agressões, resistência à prisão, desacato à autoridade, furto, ultraje público ao poder, porte de arma e assassinato;
  3. João Francisco era também apaixonado pelo carnival carioca. Foi assim que, em 1942, ao desfilar no bloco de rua Caçados de Veados, surgiu o nome lendário. Nesse desfile, ele se apresentou com a fantasia de Madame Satã, inspirado pelo filme homônimo de Cecil B. DeMille.
  4. O filme de Karim não é o único que homenageia João Francisco. A Rainha Diaba, filme de 1974 dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, também se inspirou no personagem histórico drag. O filme está todo no Youtube, pra você que não precisa de legendas para seguir.

Autora: Patrícia Anzini

Colaboração e tradução: Maria Wróblewska

Fot. Noom Peerapong, Unsplash; Arcos da Lapa, Wikimedia; Lázaro Ramos como João Francisco Santos/Madame Satã, Alekinoplus.pl; Lázaro Ramos como João Francisco Santos/Madame Satã, SFGATE.com.

Cíclo: “Na cabeça e na tela”, Crítica-minutos dos 100 Melhores Filmes Brasileiros (segundo a Associação Brasileira de Cinema, a Abraccine)

Kultura

Crítica-minutos: Estômago

  • 13 maja 201813 maja 2018

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“O Alecrim, esse queijo gorgonzola pode ser o caralho que for meu irmão,

tu pode fazer o que quiser com ele,

mas esse negócio não vai ficar aqui dentro nem fodendo!”

Bujiú, companheiro de cela de Nonato

Portret Jean Jacques Rousseau“O homem nasce bom. É a sociedade que o corrompe”. Embora o dictum imortal de Jean Jacques Rousseau, o tal filósofo suiço, soe um bocado antiquado para o nosso planeta hoje conhecido como “z”  e rodeado de centennials , ele ainda faz sucesso nas telas de cinema. “A teoria do bom selvagem”, escrita por ele em 1755, dá as rédeas para o nosso “filme-aperitivo” do mês de maio—Estômago, lançado em 2007, dirigido por Marcos Jorge e número 74 na lista da Abraccine.

Raimundo Nonato, brilhantemente interpretado por João Miguel, é o protótipo do “bom” rousseaniano no Brasil: ele é o nosso nordestino ingênuo, puro, que nasceu livre na província, e que decide mudar-se para a “cidade grande”, a metrópole, em busca de novas oportunidades. É ao chegar lá, exato momento em que o filme inicia-se, que sua natureza começa a ser corrompida. É a sociedade moderna, com sua tirania, injustiças, servidão, seu “mundo cão”, enfim, que salienta a desigualdade entre os homens enquanto seres comunitários. É ela, também, que dita o rumo de Nonato: ao tornar-se faxineiro de um boteco, descobre seu talento inato para a cozinha com a feitura de coxinhas. E de coxinha em coxinha, o boteco transforma-se em um bar agradável e chama a atenção de Giovanni (Carlo Briani), o italiano dono de um restaurante na região. É Nonato que então se transforma em um cozinheiro de mão-cheia ao aceitar a oferta de trabalho de Giovanni. A partir da descoberta dos segredos da cozinha, Nonato também descobre o poder, a esperteza, os jogos morais e éticos dentro e fora dos restaurantes, a competição, a luxúria, a fúria por temperos e trapaças, e a luta pelo amor de uma prostituta, a Íria (Fabiula Nascimento). Não é difícil imaginar como termina uma trama que involve sexo, comida, facas, temperos e prisão.

            Nada de novo, han? A tríade corrupção-sexo-comida já foi abordada inúmeras vezes, por vários diretores, escritores, filósofos, artistas, em diferentes países, com diferentes enfoques. Um exemplo? La Grande Bouffe (Marco Ferreri, 1973), um filme-crônica italiano/francês sobre gula e suicídio. Literalmente! O filme é sobre um grupo de homens que se encontra no interior da França para comer até a morte. Então, o que faz de Estômago ter sido considerado o melhor filme do ano em 2008 pelo jornal O Globo? O que é que afinal o filme tem que o fez vencer dezenove (!) prêmios, quatorze deles internacionais (sim, Estômago foi o filme brasileiro mais premiado tanto no Brasil como no exterior em 2008-2009)? O que é que tem essa fábula gastronômica brasileira que encantou tantos júris por aí afora?

            Márcio Rodrigo, colaborador da Gazeta Mercantil, nos dá a deixa da “pitada de sal” que Estômago adicionou na trajetória do cinema brasileiro. É nesse parágrafo que se resume sua crítica: “Com roteiro e direção de artes primorosos, apesar de ter sido realizado com baixo orçamento, Estômago consegue resumir em sua trama tragicômica a lei da selva que hoje impera neste país, uma pátria em que ‘quem não almoça, seguramente será jantado’. Sem pretensões, nem tampouco diálogos empolados, o diretor parece fazer do manifesto oswaldiano seu guia nesta produção em que apetite, humor negro e uma dose certa de luxúria são os temperos do filme”. Estômago é isso mesmo: uma receita feroz que inclui os ingredientes e as instruções necessárias para que o expectador entenda como se “cozinha” o poder que preside as relações sociais contemporâneas. No filme de Marcos Jorge, essa sociedade é a realidade brasileira em particular; o poder, a comida; e a receita, a famosa antropofagia do escritor modernista Oswald de Andrade, que se inspira no canibalismo indígena (a devoração, nada metafórica no caso do filme, de carne humana) para refletir e propor uma saída para a “falta de sabor” que atravessa a luta pela sobrevivência dentro dessa “selva” chamada Brasil.

Raimundo Nonato / Alecrim - JOÃO MIGUEL & Íria - FABIULA NASCIMENTO © 2008 Zencrane Filmes
Raimundo Nonato / Alecrim – JOÃO MIGUEL & Íria – FABIULA NASCIMENTO © 2008 Zencrane Filmes

            E não só isso! O filme conta com pitadas de cinematografia de alta qualidade: trilha sonora excepcional do italiano Giovanni Venosta; imagens inesquecíveis, ora caricatas, ora escatológicas; o roteiro contado em duas camadas de histórias que se cruzam a todo momento (Nonato antes e depois da prisão); o suspense que corre por todo o filme (você passa o tempo do filme inteiro querendo saber porque que Nonato, afinal, está na cadeia. Mistério só revelado, naturalmente, no minuto final); tudo isso dão um paladar a mais ao filme que não nos deixa fugir de uma aguda reflexão social do que é viver em uma sociedade onde uns devoram e outros são devorados. Reflexão talvez um pouco indigesta para alguns, mas que, se degustada com azeite, sal e pimenta, gera um olhar crítico visceral—e necessário—sobre ascensão social e os mecanismos imorais que ela exige. Não é à toa que o filme inicia-se com um take da boca do protagonista Nonato e termina em seu traseiro. Estômago, como o próprio Marcos Jorge, o diretor, declarou, “é uma descida pelo sistema digestivo, pelo sistema corruptor da sociedade”.

Bom apetite!

FICA A DICA

  1. Quer saber mais sobre como as ideias de Rousseau foram levadas para as telinhas por aí afora? Dois filmes valem a pena: o português Os Verdes Anos (Paulo Rocha, 1963) e O Enigma de Kaspar Hauser (Wernen Herzog, 1974). O primeiro, que inaugura o cinema novo lusitano e que conta com a fantástica trilha sonora de Carlos Paredes, é sobre a história do garoto Júlio, que tenta a sorte grande como sapateiro em Lisboa; o segundo, baseia-se na história real do suposto neto de Napoleão, o famoso imperador francês, que viveu desconectado da sociedade e outros seres humanos até seus 16 anos. Pra quem não precisa de legenda, Os Verdes Anos pode ser acessado neste link. 

CURIOSIDADES

  1. Dentro os tantos prêmios que Estômago recebeu, aqui vão os de mais destaque: Festival do Rio 2007 (melhor filme, diretor, ator, prêmio especial do juri), International Film Festival Rotterdam 2008 (Lions Award, Holanda); 11o. Festival Internacional de Cine de Punta Del Este (melhor filme e ator, Uruguai); 17ème Festival de Biarritz, França (prêmio do júri); 16th Raindance Filme Festival (best international feature, Inglaterra); Festival Internacional de Cinema do Funchal (melhor filme e atriz, Portugal), etc, etc, etc.
  2. Estômago marca a estreia para duas pessoas: é o primeiro (!) longa do diretor Marcos Jorge e de Fabiula Nascimento, a atriz que encara a personagem da prostituta Iria;
  3. A ideia do filme nasceu do conto “Preso pelo estômago”, escrito por Lusa Silvestre, o roteirista do filme, e que chegou nas mãos do diretor.

Autora: Patrícia Anzini 

Colaboração e tradução: Maria Wróblewska

Fot. Noom Peerapong, Unsplash; Jean Jacques Rousseau, Wikimedia, Raimundo Nonato / Alecrim – JOÃO MIGUEL & Íria – FABIULA NASCIMENTO © 2008 Zencrane Filmes, estomagoofilme.com.br .

Cíclo: “Na cabeça e na tela”, Crítica-minutos dos 100 Melhores Filmes Brasileiros (segundo a Associação Brasileira de Cinema, a Abraccine)

 

Kultura

Recenzja: „Żołądek”

  • 13 maja 201813 maja 2018

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Rozmaryn, ta gorgonzola może być sobie, kurwa, czym tylko chcesz,

I możesz sobie z nią robić, co tam sobie chcesz,

Ale to śmierdzące gówno tu nie zostanie!

Bujiú, kolega z celi Nonato.

 

„Człowiek rodzi się dobry. To społeczeństwo go deprawuje.” Chociaż nieśmiertelna teza Jana Jakuba Rousseau, szwajcarskiego filozofa, brzmi nieco przestarzale z perspektywy naszej planety zaludnionej przez pokolenie „z”, nadal święci sukcesy na ekranach kin.„Teoria dobrego dzikusa[1]”, napisana przez niego w 1755 roku, jest zaczynem naszego majowego aperitifu – filmu p.t. „Żołądek” (2007), w reżyserii Marcosa Jorge’a, 74. pozycji na liście 100 najlepszych filmów brazylijskich Abraccine. 

Raimundo Nonato, błyskotliwie zagrany przez João Miguela, jest modelowym przykładem brazylijskiej wersji „dobrego dzikusa” Rousseau. Nasz niewinny, moralnie czysty mieszkaniec Nordeste, urodzony na prowincji, postanowił emigrować do wielkiego miasta w poszukiwaniu lepszych perspektyw. Film rozpoczyna się właśnie z chwilą jego przyjazdu do metropolii, a co się z tym wiąże – z chwilą, kiedy jego dobra natura zaczyna być deprawowana. To zamordyzm, niesprawiedliwości, służalczość i „pieskie życie” podsycają nierówności między ludźmi jako istotami społecznymi. Społeczeństwo pokieruje też losem Nonato. Gdy zostaje zatrudniony na zmywaku w garkuchni, odkrywa swój wrodzony talent do gotowania, przygotowując coxinhas – przekąski z kurczaka. Od udka do udka garkuchnia zamienia się w przyjemną jadłodajnię i zwraca uwagę Giovanniego (Carlo Briani), włoskiego właściciela pobliskiej restauracji. Decydując się na propozycję pracy w restauracji Giovanniego, Nonato zostaje kucharzem pełną gębą. Odkrywając kolejne sekrety kuchni, Nonato dowiaduje się również, co to władza, spryt, moralne i etyczne zagrywki przed i za drzwiami restauracji; co to rywalizacja, rozwiązłość, pasja do przypraw i robienia przekrętów, walka o miłość prostytutki Írii (Fabiula Nascimento). Nietrudno sobie wyobrazić, jak się rozwija fabuła, w której mieszają się ze sobą seks, jedzenie, noże, przyprawy i więzienie.

Nihil novum? Triada pt. korupcja-seks-jedzenie nie raz była brana na warsztat przez reżyserów, pisarzy, filozofów i artystów z wielu krajów. Przykład? „Wielkie żarcie” (Marco Ferreri, 1973), włosko-francuski filmowy felieton opowiadający o obżarstwie i samobójstwie. (Dosłownie! Film za bohaterów ma grupę mężczyzn, którzy spotykają się na francuskiej prowincji z zamiarem przejedzenia się na śmierć). Cóż więc jest takiego w filmie „Żołądek”, że został uznany filmem roku 2008 przez dziennik „O Globo”? Cóż takiego przyniosło mu aż 19 (!) nagród, w tym 14 międzynarodowych (tak, „Żołądek” to najbardziej obsypany nagrodami film brazylijski w kraju i za granicą w sezonie 2008/2009)? Co kryje w sobie ta gastronomiczna brazylijska fabuła, że uwiodła tyle składów juri?

Márcio Rodrigo, publicysta „Gazety Mercantil” podpowiada nam, w jaki sposób „Żołądek” stał się szczyptą soli, która dosmaczyła brazylijską kinematografię. Jego opinia streszcza się w tym paragrafie: „Dzięki scenariuszowi i reżyserii prima sort „Żołądek”, mimo skromnego budżetu, zsyntetyzował w swojej tragikomicznej fabule, czym jest prawo silniejszego, które panuje obecnie w tym kraju, w ojczyźnie, gdzie – „gdy Ty nie zjesz kogoś na obiad, to Ciebie zjedzą na kolację”. W tym bezpretensjonalnym filmie, pozbawionym wyszukanych dialogów, reżyser obiera sobie za przewodnik Oswaldyjski manifest, a przyprawami są tu apetyt, czarny humor i pewna doza rozwiązłości.” „Żołądek” jest właśnie tym – brutalnym przepisem, który zawiera w sobie odpowiednie składniki i wskazówki, aby widz zrozumiał, jak się „pichci” mechanizmy władzy obecne w relacjach społecznych. Film Marcosa Jorge odwołuje się w szczególności do brazylijskich realiów. Mówi o władzy, jedzeniu. Przepis nawiązuje do teorii antropofagii modernistycznego pisarza Oswalda de Andrade, inspirowanej kanibalizmem Indian (spożywania, w przypadku filmu wcale nie metaforycznego, ludzkiego mięsa). I w ten sposób zmusza do zastanowienia się nad przyczynami i możliwymi rozwiązaniami niesmacznej walki o przetrwanie w „dżungli” jaką jest Brazylia.

Raimundo Nonato / Alecrim - JOÃO MIGUEL & Íria - FABIULA NASCIMENTO © 2008 Zencrane Filmes
Raimundo Nonato / Alecrim – JOÃO MIGUEL & Íria – FABIULA NASCIMENTO © 2008 Zencrane Filmes

I nie tylko! W filmie znajdziemy garść kinematografii z wyższej półki: wyjątkową ścieżkę dźwiękową Włocha, Giovanniego Venosty, niezapomniane kadry o karykaturalnej lub eschatologicznej wymowie, dwie przenikające się narracje (Nonato przed i po osadzeniu w więzieniu) oraz suspens do ostatniej minuty (przez cały film będziesz czekać na rozwiązanie zagadki uwięzienia bohatera). Wszystko to nadaje dodatkowych smaczków filmowi, który nie ucieka od głębszych pytań o to, jak żyć w społeczeństwie, w którym jedni pożerają, a inni są pożerani. Być może dla niektórych wydadzą się one ciężkostrawne, ale doprawione sowicie oliwą, solą i pieprzem, pozwalają na krytyczną i bardzo potrzebną refleksję nad awansem społecznym i niemoralnymi mechanizmami, które go warunkują. Nie bez przyczyny film rozpoczyna ujęcie ust głównego bohatera, a kończy się na tylnych partiach jego ciała. „Żołądek”, jak podsumował sam Marcos Jorge, to w końcu: „podróż w dół przewodu pokarmowego, przez skorumpowany układ społeczny.”

Smacznego!

DOBRA RADA

  1. Jesteś ciekawy/-a w jaki sposób teorie Rousseau zostały przeniesione na ekran? Polecamy dwie produkcje: „Zielone Lata” (Paulo Rocha, 1963) i „Zagadkę Kaspara Hausera” (Wernen Herzog, 1974). Pierwsza z nich, opatrzona fantastyczną ścieżką dźwiękową Carlosa Paredesa, rozpoczęła nurt portugalskiej nowej fali. Opowiada historię młodzieńca imieniem Júlio, który próbuje szczęścia przyuczając się do zawodu szewca w Lizbonie (biegli w języku portugalskim mogą obejrzeć go tu). Drugi z nich, oparty na faktach, opowiada historię domniemanego wnuka Napoleona, francuskiego cesarza, który przez 16 lat żył w odosobnieniu, nie mając kontaktu z innymi ludźmi.

CIEKAWOSTKI

  1. Wśród wielu nagród, które zdobył „Żołądek” warto wyróżnić nagrodę za najlepszy film, reżyserię, aktora pierwszoplanowego, nagrodę specjalną juri na Festiwalu w Rio (2007), Lwa na Międzynarodowym Festiwalu w Rotterdamie/Holandia (2008), nagrodę za najlepszy film i najlepszego aktora pierwszoplanowego na 11. Międzynarodowym Festiwalu Filmowym w Punta del Este/Urugwaj, nagrodę juri na 17. Festiwalu w Biarrittz/Francja, nagrodę za najlepszy film zagraniczny na 16. Festiwal Raindance/Anglia, nagrodę za najlepszy film i dla najlepszej aktorki na Międzynarodowym Festiwalu Filmowym w Funchal/Portugalia, itd. itd.
  2. „Żołądek” to debiut reżyserski (!) Marcosa Jorge i aktorski Fabiuli Nascimento, która wcieliła się w postać prostytutki Irii.
  3. Pomysł na film zakiełkował, gdy do rąk reżysera trafiło opowiadanie „Za kratami przez żołądek” autorstwa Lusy Silvestre’a, scenarzysty produkcji.

[1]W rzeczywistości w „Rozprawie o pochodzeniu i podstawach nierówności między ludźmi” nie znajdziemy explicité tego określenia.

Autorka: Patrícia Anzini 

Współpraca i tłumaczenie: Maria Wróblewska

Redakcja: Magda Walczyk

Fot. Noom Peerapong, Unsplash; Jean Jacques Rousseau, Wikimedia, Raimundo Nonato / Alecrim – JOÃO MIGUEL & Íria – FABIULA NASCIMENTO © 2008 Zencrane Filmes, estomagoofilme.com.br .

Cykl: W głowie i na ekranie. Recenzyjki stu najlepszych filmów brazylijskich według rankingu Abraccine – Brazylijskiego Stowarzyszenia Krytyków Filmowych

 

Kultura

Recenzja: Abril Despedaçado/W cieniu słońca*

  • 9 kwietnia 201813 maja 2018

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„Krew pożółka”

Breves, ojciec rodziny

Zrób to sam: otwórz przeglądarkę i wpisz „lista brazylijskich filmów nominowanych do Oskara”. Zaraz pod spodem dostaniesz w wynikach „Dworzec Nadziei” z 1999 roku. Reżyseria: Walter Salles. Tak jest, drogi czytelniku, na tej krótkiej i skąpiej liście nominacji do jednej z najbardziej poważanych nagród światowego kina, jedna z nich przypadła w udziale naszej „gwieździe miesiąca”.

Nie tylko nominacja do Oskara sprawiła, że reżyser zdobył popularność wśród miłośników kina. Walter Salles może być uznany za kogoś w rodzaju ambasadora współczesnego kina brazylijskiego. Tak w kraju, jak i poza jego granicami. Wytłumaczę to, za pozwoleniem, za pomocą retrospekcji. Jest rok 1990. Urząd prezydenta Brazylii piastuje Fernando Collor de Mello, pierwszy „elegant” wybrany w demokratycznych wyborach po ciężkich i niekończących się latach dyktatury wojskowej (1964-1985). Collor nie jest specjalnie przywiązany do kultury, w szczególności do kina. Po zaprzysiężeniu, rozwiązuje instytucje federalne do tej pory odpowiedzialne za rozwój produkcji filmowej w Brazylii, czyli długowieczny i słynny duet Embrafilme (Brazylijskie Towarzystwo Filmowe) e Concine (Narodowa Rada Kina). Organy te, stworzone odpowiednio w 1969 i 1976 roku, były odpowiedzialne za dynamizację i legislację sektora. Czy nie łatwiej byłoby po prostu zlikwidować Ministerstwo Kultury? Mówisz i masz! Brzmi jak żart, ale niestety tak właśnie było. Po tylu „zaszczytnych” gestach w stosunku do kultury brazylijskiej, za czasów Collora kinematografia przechodzi absolutne załamanie. Trudno się temu dziwić.

Walter Salles stał się przede wszystkim inspiracją dla innych, “bohaterem naszego ludu”.

A teraz wyobraź sobie, drogi czytelniku, że jest rok 1999. Minęła prawie dekada od początku wielkiej posuchy w brazylijskiej kinematografii. Włączasz telewizor, żeby obejrzeć ceremonię wręczenia Oskarów. I wśród najlepszych filmów zagranicznych jest i jeden brazylijski do kości – „Dworzec nadziei” – chociaż wyprodukowany wspólnie z Francją (koprodukcje były częstym rozwiązaniem wybieranym przez brazylijskich reżyserów, żeby przetrwać trudne czasy). I tu na scenę wchodzi nasz Walter. Nie chodziło tylko o film ubiegający się o Oskara. To był moment symbolizujący zwycięstwo całego pokolenia, namacalna nadzieja, że możliwe jest jeszcze stworzenie produkcji, która zostanie dostrzeżona poza granicami kraju. Walter Salles stał się przede wszystkim inspiracją dla innych, “bohaterem naszego ludu”, jak Mário de Andrade scharakteryzował Macunaímę, jedną z najsłynniejszych postaci literatury brazylijskiej. Jakby nie było, to on umieścił Brazylię na mapie najważniejszych producentów filmowych.

I to w ten sposób, dzięki zjawisku, które dziś nazywane jest retomada (odrodzeniem) kina brazylijskiego, jego kariera wystartowała. Dziś Salles, obok Fernando Meirellesa, uważany jest za „pistolet”. A zdobyte uznanie pozwoliło mu wyreżyserować oklaskiwane „Dzienniki Motocyklowe” (2003) i „W drodze” (2012), adaptację książki bitnika, Jacka Kerouaca, noszącej ten sam tytuł. Na liście 100 najlepszych filmów brazylijskich Abraccine znajdują się aż trzy jego filmy: obsypany nagrodami „Dworzec Nadziei”, „Obca Ziemia” (1996) i „W cieniu słońca” (2001), nasza film miesiąca.

„Rozdarty kwiecień/W cieniu słońca” to adaptacja homonimicznej powieści autorstwa Albańczyka, Ismaila Kandarego. W filmie akcja książki przeniesiona jest do roku 1910, na stepy sertão, półpustynnego regionu położonego na północnym-wschodzie Brazylii. Tam też żyje Tonho (grany przez Rodrigo Santoro) wraz z rodziną, Brevesami. Tonho jest zmuszony przez swojego ojca (José Dumont) do pomszczenia śmierci starszego brata zamordowanego przez Ferreirów, rodzinę wrogów. Gdy tylko zakrwawiona koszula zmarłego brata żółknie na sznurze, Tonho ze strzelbą w ręce wyrusza w poszukiwaniu zasłużonego honoru i wendety. Fabuła jest właśnie o tym: o logice przemocy i tradycji w świecie, w którym nie istnieje państwo w roli rozjemcy, w świecie, który kieruje się prawem talionu, lepiej znanym dzięki maksymie „oko za oko, ząb za ząb.”

Rodrigo Santoro i Ravi Ramos Lacerda w „Cieniu Słońca” (2001). © 2002 – Miramax Films – All Rights Reserved

Chociaż książka Kadrego była przenoszona na ekran kilkukrotnie, brazylijska wersja jako jedyna zdobyła uznanie autora. Film w rzeczy samej jest mistrzowski i wiele ze swojej wielkości zawdzięcza temu, że użyto w nim tylko naturalne światło. Szczęśliwego wyboru dokonał inny Walter, Walter Carvalho, znany operator. Żółknięcie koszuli symbolicznie oddaje, jak „Walterzy”, Salles i Carvalho, pracują z obrazem, kolorem i fakturą filmu: wszystko jest w kolorze żółtym, typowym dla okrutnego i nieurodzajnego sertão.

Brutalność i suchość monochromatycznego pejzażu sertão stały się jednym z głównych motywów, który przejawia się przez cały film. Widać go w ograniczeniu ruchu (kołowym ruchu żaren i wołów zaprzęgniętych w młynie cukrowym, w którym rodzina wytwarza cukier z trzciny, które kręcą się, kręcą bez możliwości zmiany miejsca, w wirującym ruchu Klary na cyrkowym sznurze; w krokach bohaterów, zmierzających czy to zabić, czy to umrzeć); w „ubezosobowieniu” niektórych postaci (młodszy brat Tonha nazywany jest po prostu „chłopcem”, a ojciec, Breves, nosi tylko rodowe nazwisko); w niedostatku okazywanych uczuć (postaci z rzadka się uśmiechają, a w wielu wypadkach nie mrukną ani słowa); i w przemocy tego niezwykłego, głębokiego i tragicznego świata. „W cieniu słońca” to przede wszystkim piękna historia o nadziei, wyzwoleniu i ludzkim rozwoju.

*W Polsce film ukazał się pod tytułem „W cieniu słońca”. W dosłownym tłumaczeniu jego tytuł to “Rozdarty Kwiecień”.

DOBRA RADA:

  1. Książka, którą chłopiec dostaje w prezencie od Klary, ma szczególną moc. To ona pozwala mu wyobrazić sobie inny świat, inne życie.
  2. Zwróć też uwagę na deszcz! Poza faktem, że scena deszczu jest jedną z najładniejszych w filmie, to także jeden z najbardziej ikonicznych symboli świata sertanejo (kultury z północno-wschodniego region Brazylii). Nadejście deszczu zwiastuje odrodzenie bohaterów i świata, w którym żyją. Biegnij oglądać film, żeby dowiedzieć się więcej!

CIEKAWOSTKI:

  1. Tak Embrafilme, jak i Concine były instytucjami federalnymi powołanymi do życia przez wojskowych w latach 1969 I 1979. Niektóre z ich funkcji, sprawowane przede wszystkim przez Concine (normatyzacja i nadzór nad działalnością kinematograficzną w kraju, tworzenie planów rozwoju kinematografii, a nawet zbieranie danych o produkcji, dystrybucji i rynku) przez ponad dekadę nie zostały przydzielone żadnemu organowi. Sytuacja ulega zmianie dopiero w 2001 roku, za rządów Fernando Henrique Cardoso, kiedy powstała wciąż działająca Ancine (Narodowa Agencja Kina);
  2. W Brazylii tworzy się polityki publiczne, wspierające realizację projektów artystyczno-kulturalnych. Najbardziej znane rozwiązanie, Lei Rouanet (Prawo Rouanet), to mechanizm ulgi podatkowej zatwierdzona przez samego Collora w 1991 roku. Na mocy tego prawa zarówno firmy jak i zwykli obywatele mogą przeznaczyć część podatku dochodowego (w formie darowizn lub sponsoringu) na bezpośrednie wsparcie projektów kulturalnych, uprzednio zatwierdzonych przez brazylijski Ministerstwo Kultury. Innymi słowy rząd federalny stworzył narzędzie, dzięki któremu społeczeństwo może przeznaczyć część pieniędzy ze swoich podatków na rozwój projektów kulturalnych.
  3. To właśnie „W cieniu słońca” wypromował, grającego Tonha, Rodrigo Santoro, który zdobył międzynarodowy rozgłos. 

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Autorka: Patrícia Anzini

Współpraca i tłumaczenie: Maria Wróblewska

Fot. Noom Peerapong, Unsplash; Walter Salles, Wikimedia, Rodrigo Santoro e Ravi Ramos Lacerda em “Abril Despedaçado”, IMDB

Cykl: W głowie i na ekranie. Recenzyjki stu najlepszych filmów brazylijskich według rankingu Abraccine – Brazylijskiego Stowarzyszenia Krytyków Filmowych

Kultura

Crítica-minutos: Abril Despedaçado

  • 9 kwietnia 201813 maja 2018

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 “O sangue amarelou”

Breves, o pai

Faça você mesmo: abre teu navegador e digite “lista de indicações brasileiras ao Oscar.” Logo ali embaixo, referente ao ano de 1999: Central do Brasil. Direção: Walter Salles. Pois bem, caros leitores: dessa nossa miúda e enxuta lista de indicações a um dos prêmios mais prestigiados do cinema mundial, uma delas pertence ao nosso cinema-star do mês. Mas não foi só pela indicação ao Oscar com Central do Brasil que o diretor ficou famoso nas rodas todas de amantes de cinema. Walter Salles pode ser considerado uma espécie de embaixador do cinema brasileiro mais contemporâneo. Tanto dentro quanto fora do Brasil, por sinal. Vou explicar com a devida liçenca para utilizar um flashback: o ano é 1990. O presidente do Brasil é de Mello, o primeiro “boa-pinta” a ser eleito democraticamente após os árduos e intermináveis anos de ditadura militar (1964-1985). Collor não era muito afeito às artes não, sobretudo ao cinema. Após a tomada de poder, ele extingue todos os órgãos federais até então responsáveis pelo fomento e incentivo à produção de filmes no Brasil: a antiga famosa dupla Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes) e Concine (Conselho Nacional de Cinema), os órgãos responsáveis pelas respectivas fomentação e legislação do setor, criados respectivamente em 1969 e 1976. Pois não era mais fácil extinguir o Ministério da Cultura todo? Dito e feito! Parece piada, mas não foi. Com tantos gestos honrosos em relação à cultural brasileira, o cinema na “era Collor” entra em total colapso. Naturalmente.

Walter Salles tornou-se, acima de tudo, uma inspiração, um “herói de nossa gente”

Agora imagina que o ano é 1999, quase uma década após o início da grande seca cinematográfica brasileira. Você liga tua televisão pra assistir a premiação do Oscar. E entre a lista dos melhores filmes estrangeiros do ano, lá está um que, embora produzido juntamente com a França (a co-produção foi a solução financeira que muitos diretores brasileiros encontraram para sobreviver durante a seca), ainda era brasileiríssimo, dentro e fora do título: Central do Brasil. E é aqui que entra nosso Walter: aquele não era só um filme concorrendo ao Oscar; era uma vitória de toda uma geração, uma esperança concreta de que ainda era possível produzir arte de reconhecimento internacional no país; e Walter Salles tornou-se, acima de tudo, uma inspiração, um “herói de nossa gente”, como Mário de Andrade bem caracterizou seu Macunaíma, um dos personagens mais famosos da literatura brasileira. Afinal, ele colocara o Brasil no mapa dos mais importantes produtores de filmes.

E foi por aí, a partir do que hoje é chamado de “retomada” do cinema brasileiro, que tudo decolou na sua carreira. Hoje, Salles, junto com Fernando Meirelles, tornou-se um dos “bam-bam-bam” lá fora, prestígio que o levou a dirigir o aclamado Diários de Motocicleta em 2003 e Na Estrada, a versão nas telas de On the Road do escritor beat Jack Kerouac, lançado em 2012. Abril Despedaçado (2001), seu quinto longa, também se encontra na lista feita pela Abraccine dos 100 Melhores Filmes Brasileiros de Todos os Tempos, juntamente com o galardoado Central do Brasil e Terra Estrangeira (1996). O filme é uma adaptação do livro homônimo do autor albanês Ismail Kandaré para o sertão de 1910, a região semi-desértica localizada no nordeste do Brasil. Nele, vive Tonho (Rodrigo Santoro) e sua família, os Breves. Tonho é impelido por seu pai (José Dumont) para vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado pela família rival, os Ferreiras. Assim que a camisa do irmão falecido, até então vermelha de sangue, amarela no varal, Tonho sai, de espingarda em mãos, em busca da honra e rivalidade merecidas. E é disso que se trata a história do filme: a lógica da violência e da tradição de um mundo sem estado regulamentador algum e só regido pela antiga “Lei de talião”, mais conhecida pela máxima “olho por olho, dente por dente”.

Rodrigo Santoro e Ravi Ramos Lacerda em “Abril Despedaçado” (2001). © 2002 – Miramax Films – All Rights Reserved

Embora o livro de Kadré tenha outras duas adaptações para as telas, a brasileira foi a única que agradou o escritor. O filme é, de fato, magistral e muita dessa magnitude deve-se ao uso exclusivo de luz natural, opção felizmente escolhida pelo outro Walter, o Carvalho, diretor de fotografia aclamadíssimo em território nacional. Aquele amarelar da camisa é a simbologia e definição mesma de como os “Walters”, o Salles e o Carvalho, trabalham de forma belíssima com imagem, cor e textura nesse filme: tudo é amarelo, a cor típica e atroz da aridez tão característica do sertão. Aliás, a brutalidade e secura da paisagem monocromática sertaneja viram um dos motivos principais que se derrama pelo filme todo: nos movimentos condicionados (os circulares do moedor e dos bois no engenho que a família produz rapadura que rodam, rodam e rodam sem sair do lugar; o girar constante de Clara na corda do circo; e o movimento nos próprios passos dos personagens, seja para caminho da matança ou da morte,); na impersonalização de alguns personagens (o irmão mais novo de Tonho é chamado simplesmente de “menino,” e o pai, o Breves, leva o nome da família,); na aridez dos sentimentos (os personagens raramente sorriem e, em muitos casos, mal pronunciam uma palavra qualquer); e na violência daquele mundo poderoso, profundo e trágico. Abril Despedaçado é, antes de tudo, uma história belíssima de esperança, libertação e crescimento humano.

FICA A DICA

  1. O livro que o menino ganha de presente de Clara é um protagonista poderoso: é através dele que aquele miúdo imagina um outro mundo, uma outra alternativa.
  2. Preste atenção também na chuva! Além de ser uma das cenas mais bonitas do filme e um dos símbolos mais icônicos do mundo sertanejo (a água é de difícil acesso por lá), a chegada da chuva anuncia  o renascimento dos personagens e daquele mundo em que eles vivem. Corre assistir ao filme pra saber como!

CURIOSIDADES

  1. Tanto a Embrafilme, quanto o Concine foram órgãos federais criados pelos militares em poder nos anos de 1969 e 1976. Algumas das funções desempenhadas, sobretudo pelo Concine (a normatização e fiscalização das atividades cinematográficas no país, a formulação de políticas para o cinema, e mesmo a coleta de dados sobre produção, distribuição e mercado) passaram mais de uma década sem qualquer órgão responsável. A situação só muda em 2001 com a criação da ainda atuante Ancine (Agência Nacional de Cinema) durante o governo Fernando Henrique Cardoso;
  2. No Brasil, institui-se políticas públicas para a realização de projetos artístico-culturais. A mais famosa delas é “Lei Rouanet”, a lei de incentivo fiscal sancionada pelo próprio Collor em 1991. Essa lei possibilita que tanto empresas quanto cidadãos apliquem uma parte do Imposto de Renda (em forma de doações ou patrocínios) no apoio direto a projetos culturais já aprovados pelo Ministério da Cultura brasileiro. Em outras palavras, o Governo Federal oferece uma ferramenta para que a sociedade possa aplicar parte do dinheiro de seus impostos em ações culturais;
  3. Foi extamente Abril Despedaçado que consagrou e deu visibilidade internacional ao ator Rodrigo Santoro (“Tonho”).

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Autora: Patrícia Anzini 

Colaboração e tradução: Maria Wróblewska

Fot. Noom Peerapong, Unsplash; Walter Salles, Wikimedia, Rodrigo Santoro e Ravi Ramos Lacerda em “Abril Despedaçado”, IMDB.

Cíclo: “Na cabeça e na tela”, Crítica-minutos dos 100 Melhores Filmes Brasileiros (segundo a Associação Brasileira de Cinema, a Abraccine)

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